Quando as avenidas se encontram e se abalroam
Edouard-León Cortés, Boulevard Bonne Nouvelle, Porte St. Denis, óleo sobre tela.
|
"Quando as avenidas se encontram e se abalroam". Essas palavras ficaram gravadas em minha memória. Ouvi-as de nosso professor de História Contemporânea, Anselmo Ronsard Cavalcanti, cujos ensinamentos me fizeram tomar gosto por esse período histórico, numa das manhãs nas salas da Central de Integração Acadêmica da Universidade Estadual da Paraíba, em Bodocongó, quando assistíamos aula sobre a Primeira Guerra Mundial no curso de Licenciatura em História.
A atmosfera efervescente e inebriante da Belle Époque promovera novos hábitos e valores que surgiam nas grandes metrópoles europeias no fin de siècle, a "civilização" ocidental talvez nunca experimentara tamanho entusiamo. Cafés, boulevards, cabarés, teatros, óperas, o impressionismo e a Art Nouveau marcaram o ambiente cultural da época. As nações europeias seguiam o curso da Segunda Revolução Industrial com as suas máquinas, com novidades fabulosas, e mediam forças para dominar o cenário como a maior potência mundial em face da ideia de progresso. Nesse contexto as "civilizações" europeias tomaram rumo por avenidas nas quais se encontraram e se abalroaram na esquina da história. Tensões crescentes que culminaram na Grande Guerra, em 1914.
A história não é uma linha reta, um itinerário que parte de uma origem latente e se desdobra no tempo. A história é um caminho aberto, repleto de inquietações e surpresas, um trajeto marcado por angústias e incertezas. A história pode tomar muitos rumos, não adianta fixar-lhe um destino. Há a possibilidade de dobrar as esquinas da história. A esquina é uma metáfora para os rumos e desvios tomados pela história, os seus encontros e desencontros, as suas nuances, os acontecimentos nem sempre controlados, suas avenidas abertas. Nesse ponto, vidas e caminhos são cruzados, entrelaçados, uns aos outros nas tramas da história, sem um destino prévio.
Um dia nublado de março,
Campina Grande, PB
30-03-2020
Comentários
Postar um comentário