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No templo de Asclépio

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  Robert Alan Thom, The temple and the cults of Asclepius. In: A History of Medicine in Pictures presented by Park, Davis and Co. , 1957.      Segundo o poeta latino Ovídio (43 a.e.c – 18 e.c.), o nascimento de Asclépio, principal entidade divina controladora das doenças, marca o início da medicina grega. Segundo a mitologia, nasceu na Tessália, provavelmente no século VIII a. e. c., era filho do deus Apolo com a mortal Coronis. Durante sua gravidez, Coronis traiu Apolo com um mortal chamado Isquis, filho de Elates. Ao saber da deslealdade, o deus do sol tomado de ódio, feriu mortalmente a esposa, arrancando-lhe do ventre do filho ainda vivo. Asclépio recém-nascido foi levado por Apolo até Magnésia e foi confiado aos cuidados do centauro Quíron, profundo conhecedor de todas as plantas medicinais e responsável por instruir o semideus na arte de curar, tornando-o um exímio perito da prática médica, inclusive sendo capaz, conforme narra a mitologia, de ressuscitar os mortos. Hades, deus d

As flechas pestíferas de Apolo

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Stanisław Wyspianski, Apollo razi grotami pomoru (Iljada), 1897 (?) A s concepções em torno da saúde e da doença variaram ao longo da história, alterando os modos de compreender os processos de adoecimento e de cura mediante a prática terapêutica, bem como os próprios sentidos e percepções das doenças e suas explicações causais. Na antiguidade, a concepção de doença aparecia como um castigo divino, representando a ira dos deuses com as transgressões humanas. Segundo a mitologia, o deus Apolo seria responsável por produzir as doenças com suas flechas mortais, mas também poderia curá-las. Por este motivo, tornou-se a principal divindade controladora das doenças. A religião grega aceitava a existência de vários deuses, aos quais se atribuía a causa de muitos fenômenos da natureza. Segundo a lenda, Apolo e Ártemis, produziam peste e doença entre os mortais ao lançar suas flechas sobre os homens. No Canto I de A Ilíada, Homero descreve essa concepção mitológica grega. Segundo o poema

O começo do fim

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Desembarque das tropas Aliadas/ Getty Images Era madrugada do dia 06 de junho de 1944. Dezoito mil paraquedistas americanos e britânicos saltavam cruzando o escuro céu da Normandia atrás da linhas alemãs. Bombardeiros iluminavam a noite com o intuito de cortas as linhas de comunicação alemã. Não muito distante dali, atravessando as águas gélidas do Canal da Mancha, mais de cinco mil embarcações transportavam 155 mil soldados, dentre estadunidenses, canadenses e britânicos, além de aproximadamente dez mil veículos. Há 76 anos, tinha início o "Dia D", a maior operação militar da história, e com o alvorecer desse dia, o fim do regime de terror nazista.  Às 6h30 da manhã, as primeiras tropas de soldados estadunidenses desembarcaram nas praias de Utah e Omaha. Às 7h25 foi a vez dos britânicos chegarem à Sword e Gold. Em seguida, 2.400 canadenses atingiam à praia Juno. Às 10h15, a notícia do desembarque chegou aos ouvidos de Rommel, comandante do exército alemão na edificação da &q

Afinal, de onde surgiu a sífilis?

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Théodore de Bry,  Colomb à la rencontre des indigènes , 1549. Gravura, Biblioteca Nacional da França. Há muitas controvérsias quanto a origem da sífilis. Talvez nenhuma outra doença tenha sido envolta em tantas polêmicas quanto a sua ascendência. Tal razão pode se dever ao caráter pecaminoso e vergonhoso do qual essa enfermidade foi revestida. Após o ato sexual, a bactéria da sífilis ( Treponema pallidum ) adere-se à mucosa genital, onde se multiplica. A região quente e úmida do pênis ou da vagina ocasiona sua evolução. Manifesta-se uma ferida aberta, de cicatrização espontânea, peculiar da doença. O perigo da sífilis, reside no fato de que a bactéria ao atingir a corrente sanguínea, ser transportada pelo sangue e pela linfa para órgãos vitais, podendo comprometer o cérebro e o coração. A bactéria atinge também os ossos e, após a morte, possibilita a reconstituição de sua história a partir de recursos arqueológicos, antropológicos, biológicos e genéticos.  A hipótese mais ace

Quem tem medo da história?

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Pierre Mignard, Clio , 1689. Óleo sobre tela, 143,5 x 115 cm. Museu de Belas Artes de Bucareste. A História, classificou o escritor francês Paul Valéry, é o produto mais perigoso da química do cérebro humano.  Por quê? Quem tem medo da História?  No Monte Parnaso, a morada das musas, as filhas de Mnemósine e Zeus, que tem o dom de dar existência àquilo que cantam. Dentre as musas, uma delas se destaca. É Clio, a musa da História. Nas mãos porta o estilete da escrita e a trombeta da fama. É a filha mais dileta da Memória. Seu dom de narrar o passado e fazer lembrar, com a trombeta conferia um caráter notório àquilo que solenizava. A História, dentre todas as ciências, possuí o atributo de registrar o passado, tem a autoridade para falar sobre outros tempos. Mas sua função não é mais a de celebrizar homens e datas pretéritas.  A História deve estar à serviço da vida. Guiada por um compromisso ético com os seres humanos que viveram em outra temporalidade, sob a pena de

O veneno que cura II

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Paul Ehrlich e Sahachiro Hata, 1910. Museu Memorial Hata, Japão. As descobertas processadas no campo da microbiologia, na segunda metade do século XIX inauguraram uma nova fase sobre o conhecimento das doenças infecciosas. Longa trajetória e de difícil aceitação. Ficava comprovada a existência de microrganismos causadores das moléstias. Essas observações implicaram a redefinição do próprio conceito das doenças.  A sífilis, por exemplo, era entendida como uma irritação das mucosas genitais provocadas pelo excesso da atividade sexual. Era compreendida, portanto, não somente como uma doença de caráter venéreo, isto é, adquirida através das relações sexuais, como venereamente produzida, ou seja, um produto das relações sexuais. A lues venérea era compreendida, portanto, como uma enfermidade produzida pelo desregramento sexual. Doença das prostitutas e dos libertinos, dos sujeitos históricos que tinham relações sexuais consideradas promíscuas e fora da norma. Uma espécie de puniçã

O veneno que cura I

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L'espaignol afflige du mal de naples . Gravura retirada do manuscrito de Fra Sebastiano Molini da Bologna As doenças acompanham a humanidade desde o seu aparecimento no planeta. Vítima e testemunha das intempéries que lhe assaltam o corpo, o ser humano provavelmente se debruçou desde cedo sobre os seus enfermos com o desejo de curá-los.   Durante muito tempo, devido a influência hipocrática, prevaleceu a imagem da doença como desequilíbrio do corpo. Acreditava-se que as enfermidades eram fruto de alguma desordem natural interna do próprio organismo.  A terapêutica empregada consistia então, basicamente, em restituir o equilíbrio outrora perdido. Plantas, chás, dietas, exercícios, purgativos, vomitórios, sangrias, estão entre alguns dos muitos tratamentos empregados desde a antiguidade.  Não se sabia que as doenças infecciosas eram causadas por microorganismos. Mas isso começou a mudar dentro de uma perspectiva da longa duração. Observou-se que as doenças eram "pa